domingo, 6 de novembro de 2011

Com o tempo, você analisa que abrir mão de algo muito importante, só se faz quando se tem um motivo maior que esse algo: seja um propósito, uma crença, um valor íntimo, uma obstinação qualquer que te oriente para essa escolha que já se sabia tão dolorosa. É um sacrifício voluntário por algo mais pleno, mais grandioso em Beleza. E, nestas análises, você descobre outras perdas que são positivas: perde-se também a ansiedade, a insegurança e a ilusão. E você aprende a recomeçar agradecendo por vitórias tão pequenininhas… Como quando é noite e antes de dormir você se enche de gratidão: ‘Deus, obrigada, porque é noite e eu tenho o sono… Que venha um sonho novo, então’. 


(Marla de Queiroz)

sábado, 5 de novembro de 2011

METADE



Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.

(Oswaldo Montenegro)

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Agressões Morais e Físicas

   Agredi e fui agredida!
   A primeira vez foi pelo meu irmão. Após a saída do HD (hospital-dia) já diagnosticada, porém ninguém entendia direito do assunto, estávamos na casa dos meus pais, eu e meu filho, já estando separada, e ele era bem teimoso e na casa da vó dengoso. Tive uma crise e eu o balancei brava brigando. Minha mãe gritou achando que eu ia enforcar o garoto. As pessoas não tem noção que fazemos qualquer coisa prá "nos machucar" para suprir a dor que estamos sentindo, mas não machucar quem amamos, jamais! Hoje entendo que leiga no assunto não sabia qual eram meus limites só sabia que era portadora de uma tal doença que chegava a se torturar, e pq não torturar o outro? Porém ela gritou! E vieram meu pai e meu irmão e ela contou o ocorrido, colocou meu filho no colo e saiu.
   Nisso gerou uma briga com meu irmão que me deu murros na face, me segurou fortemente, meu pai assistindo tudo sem se posicionar. Ou seja, fui agredida, fiquei sem andar por uma semana e ele disse que só me segurou! Eu era a louca na época, mas se tivesse só segurado eu tinha ficado com a boca sangrando? Com hematomas pelo corpo? E com ele dolorido por uma semana como fiquei?

   Na 2ª vez foi com um namoradinho, digo assim porque ficamos juntos por um mês em Bragança Paulista. Discutimos, ele me chamou de louca e eu dei um tapa no rosto dele. Me senti agredida por ele saber do meu quadro de borderline. Ele revidou com um soco e um pontapé que causou hematomas.
   Estou comentando isso porque nós com TPB podemos perder o controle sim. Mas se somos provocados. Primeiros são as agressões morais que geram, levam às agressões físicas num borderline.

sábado, 21 de maio de 2011

Relacionamentos amorosos ( II )

Continuando sem perceber o limite da individualidade do outro, característica de nós borderlines, me engajei em mais 1 relacionamento.
Às vezes tinha crise de "depressão" como era diagnosticada, mas nunca ia em frente com meu tratamento, melhorava e já parava com os medicamentos. O namoro durou quase 2 anos, e era do jeito que eu gostava, parecíamos casados. Ele sempre ficava na minha casa ou eu na dele. Porém, nós temos essa tal sensibilidade, um faro sei lah de perceber quando alguma coisa está estranho. E eu desconfiava muito desse meu namorado (A.L.F.). Quando essa desconfiança aumentou eu decidi abandonar o barco. Sempre faço isso, abandono antes de descobrir, e ter uma decepção, ou ser abandonada. Terminei por umas 2 vezes mas voltávamos. Na terceira vez q terminei ele acatou. Bum!!! A bomba estorou msm... E passado umas semanas ele estava com outra. Pra esquecer queria alguém.... Fiquei com uma pessoa. Mas amava o outro. Sabe qdo vai ficando por ficar, acho q é aí q entra a promiscuidade q falam, vc faz e nem percebe o q está fazendo, e estando junto com essa pessoa (A.R.) acabei engravidando. Ele queria casar, dizia q me amava, mas eu não! Foi aí q caiu a ficha do q eu tinha feito, a burrada q eu tinha me enfiado, mas não pelo filho mas pela pessoa que eu estava ao lado! Decidi ficar com o filho, mas como eu não gostava e somos muito sinceros disse que não o amava para casar e nem para continuar namorando. Esse filho é a salvação de muitos pensamentos suicidas que me ocorrem nos dias de hoje. Então acho que ele foi um anjo que Deus me enviou. (K.M.S.R.)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Relacionamentos amorosos... ( I )

Tive poucos relacionamentos amorosos, dá pra se contar na palma de uma mão. E o por quê? A falta de confiança.
Nós borderlines somos "muito sensíveis", vou até repetir isso por muitas vezes aqui no blog. Da mesma maneira que nos encantamos por alguém, nos desencantamos também. A percepção e a imaginação flui demais, mas não porque queremos, mas porque isso acontece conosco. Depois vou até falar sobre a distorção da realidade que acontece conosco, mas repetindo não é porque queremos. E com isso quando começava a me relacionar com alguém era como se nós, fôssemos um só, mas isso prá mim, eu não tinha limite de individualidade, e pow o cara tava com 19 anos ia querer uma garota no pé dando satisfações? Hoje eu entendo né, mas antes não, queria saber onde tava, com quem, tinha que ser de casa pro trabalho, pra minha casa e assim por diante, não deixava respirar, sufocava, como ele dizia, e ainda mais era chamada de mimada porque as coisas tinhas que ser do meu jeito. E era assim msm, tinha q ser do meu jeito. E esse meu relacionamento acabou porque ele não aguentou. Foi minha primeira decepção amorosa, eu tinha tido minha primeira relação sexual com ele, e como prá nós o pequeno se torna grande, enfim foi uma frustração enorme.
Encarei o fato com muita dor, apesar do sentimento. Mas não imaginava ainda o q se passava comigo!
Vou preservar a identidade, mas deixarei as iniciais desse meu companheiro (C.G.S.)

Diagnóstico...

Não vou dar muitas voltas para revelar como fui diagnosticada. Depois retorno sobre minha vida!
Após um filho, um casamento fracassado, outras tentativas de suicídio e uma brava recaída, fora sugerida a internação, porém meu filho era pequeno e minha mãe achou tudo aquilo muito "forte", mas a médica falou sobre uma tal 'internação-dia', eu ia de manhã e voltava à tarde. Na época havia desfeito meu casamento, o motivo não preciso descrever (instabilidade), mas ele me levava e me buscava todos os dias, foram decorrentes por 3 meses. Lá eu era acompanhada por psiquiatra, psicólogas, terapeutas, etc.
Foi em julho de 2006 em que fui diagnosticada após essa internação, o meu Transtorno de Personalidade de Borderline F60.31. Ok, mas o q era isso? De uma coisa tinha certeza, o que eu era tratada desde meus 15 anos (depressão), não era só mais aquilo. A minha médica me propôs a pesquisar sobre o assunto e levá-la tudo o q eu encontrasse durante as consultas, pois meu tempo de tratamento no hospital acabou (convênio), achei tudo normal, tinha 24 anos, mas hoje paro e penso: normal uma médica psiquiatra pedir pra eu pesquisar sobre o assunto e levar pra ela? Para e pensa comigo. Esquisito neh?

Transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável (Borderline)

Falando sobre Transtornos de Personalidade - definidos na Classificação Internacional de Doenças (CID)como “padrões de comportamento profundamente enraizados e duradouros, manifestando-se como respostas inflexíveis a ampla gama de situações pessoais e sociais, constituem-se em desvios extremos ou significativos da forma como um indivíduo médio, em uma dada cultura, percebe, pensa, sente e particularmente, se relaciona com os outros. Tais padrões de comportamento tendem a ser estáveis, e compreendem múltiplas áreas do comportamento e do funcionamento psicológico. Associam-se frequentemente, mas nem sempre, a graus variados de sofrimento subjetivo e problemas no desempenho social”.
Dentre os Transtornos de Personalidade vale destacar o Transtorno de Personalidade Emocionalmete Instável, ou Borderline, tanto pelo número de pessoas acometidas como pelo grau de sofrimento que causa, para o próprio portador e para as pessoas que com ele convivem.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV), o transtorno se caracteriza por  "um padrão invasivo de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos e acentuada impulsividade, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, como indicado por cinco ( ou mais) dos seguintes critérios:
  • esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginário;
  • padrão de relacionamentops interpessoais instáveis e intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização;
  • perturbação da identidade:instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem ou do sentimento do self;
  • impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à própria pessoa (por ex: gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias, direção imprudente, comer compulsivamente);
  • recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante;
  • instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor (por ex:episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade, geralmente durando algumas horas e apenas raramente mais de alguns dias);
  • sentimentos crônicos de vazio;
  • raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (por ex: demonstrações frequentes de irritação, raiva constante, lutas corporais recorrentes);
  • ideação paranóide transitória e relacionada ao estresse ou severos sintomas dissociativos.”
Lendo esses critérios, dá prá imaginar a confusão com que essas pessoas vivem seus relacionamentos: inicialmente se apaixonam, são capazes de qualquer coisa (qualquer coisa mesmo) para ficar com o ser amado, brigam, xingam, quebram coisas, agridem o outro ou a si mesmos caso se sintam abandonadas. Depois não querem ver o ex-ser amado nem pintado, pois “a fila já andou”. A falta de noção de si mesmo pode levar a indefinição sexual e profissional, com dificuldade de assumir papéis adultos e estabilizar a vida. O comportamento autodestrutivo, tanto nas tentativas de suicídio, como no consumo de drogas ou álcool, promiscuidade sexual, direção perigosa, comprar ou comer compulsivo levam a sucessivas perdas, inclusive da própria saúde física. Muitas pessoas apresentam patologias orgânicas decorrentes destes comportamentos e, em função desta instabilidade têm muita dificuldade em seguir o tratamento de forma adequada.
Estas descrições certamente lhe fizeram lembrar de personagens de jornais, revistas e TV, que você não conhece pessoalmente mas sabe de detalhes de suas agruras. Nossa sociedade “voyerista” consome vorazmente os escândalos que pessoas com esse Transtorno de Personalidade provocam. Mas se lembrou alguém que você conhece de perto e certamente o incomoda com seu “jeito estúpido de amar e exigir ser amada”, tenha compaixão. Além de causar sofrimento essas pessoas sofrem também.
O tratamento é complexo, pode demandar o trabalho de mais de um profissional, com várias  abordagens ( psicofarmacoterapia, psicoterapia, terapia ocupacional, terapia familiar, etc) mas é possível e pode trazer importante melhora na qualidade de vida das pessoas acometidas.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Por que um Blog desse assunto? Transtorno de Personalidade de Borderline!

Primeiro porque essa doença começa a dar indícios na adolescência, e onde o adolescente mais fica hoje é na net.
Segundo porque aqui no Brasil ainda há pouca informação sobre essa doença, e tudo e qualquer coisa pode ser ajuda, para que não precisem levar quase 10 anos para que se diagnostiquem como aconteceu comigo, era uma simples depressão!
É uma doença séria, precisa ser tratada com cuidado, com muito cuidado, muitas pessoas e médicos até chegam a pensar que a pessoa é manipuladora, promíscua.
Mas vai lá fora pesquisar sobre essa doença F60.31, e veja, como no nosso Brasil não temos NADA!
Temos muita coisa em sites espanhóis, americanos, mas procuremos em sites brasileiros... se encontrar me mande por favor... por favor!
Eles pouco estão preocupados conosco, acha q é mimo, frescura... se fosse frescura, muitos de nós não buscávamos o suicídio como refúgio. E o q os médicos brasileiros fazem? Nada!
Desculpe, se alguns fazem mas nada publicam.
E aí temos que buscar solução fora do país. Mas vamos nos ajudar!!!

Primeiro aos 15 anos...

A primeira tentativa de suicídio foi entre 15 e 16 anos. Após uma saída com meus pais, meu irmão e um namoradinho da época, entramos em discussão. O local em q estávamos chamava-se Chopão, ficava na Giovani Gronchi, dentro do Orquidário, nem sei se ainda existe, mas próximo a ponte João Dias. Eu não bebia, nem fumava. Meu namoro não era como os de hoje. Até dormíamos juntos quando saíamos mas não rolava nada! Eu era uma tradicionalista, seguia as regras como em ordem de general, mas pra mim tava ótimo daquele jeito, comentei só prá salientar o quanto era ditadura, e o quanto eu era imatura. Mas durante a discussão dentro daquele restaurante eu já estava "cheia". Cansada de tantas brigas, discussões presenciadas pelos meus pais embriagados. Saímos dali e eu tinha um propósito. Morrer e acabar com minha vida.
Quando cheguei em casa, peguei uns comprimidos q meu pai tomava, não sabia para q servia, só sabia q era forte pq a tarja era preta, e ingeri vários (2 cartelas) juntamente com bebida alcoólica e fui deitar. Depois se deram conta, era Rivotril, e fora todo aquele procedimento, lavagem, e volta prá casa.Comecei um tratamento de depressão, melhorei e em 2 meses larguei.